La Chambre d'écoute, por René Magritte
Por que será que o dia não tem 30 horas? Não adianta vir com explicação científica para a pergunta. Hoje em dia, do que adianta saber que a Terra dá volta ao redor de si mesma em 24 horas, se o homem precisa de mais tempo para fazer tudo que quer, ou que precisa fazer? 24 horas não é o bastante.
Há muito o português já não é suficiente. Não é mais interessante só saber inglês. É preciso aprender espanhol e francês também. É preciso ser especialista e “bombril”, ao mesmo tempo.
Não adianta saber se comunicar bem, ou lidar com os diversos tipos de pessoas. É preciso ter domínio das tecnologias, computadores, softwares, celulares, pen-drive, mp4, palm top, e por aí vai... Devemos passar muito tempo sozinhos, aprendendo os apetrechos da informática, ou muito tempo nos socializando, entendendo como se dá as relações e uma boa comunicação interpessoal? A gente quer aprender a ser só, e ser junto.
As pessoas querem que a individualidade seja respeitada, mas querem constituir família, uma relação social que exige sentimento de coletividade e reciprocidade. As mulheres querem romper com o estereótipo do sexo frágil, mas andam de mãos dadas com o conceito de “boa moça”, tradicionalmente vestidas de branco, véu e grinalda.
Precisamos estar atentos às mudanças do mundo. Atualidade é uma das palavras do séc. XXI. É preciso ler um jornal por dia, uma revista por semana, conhecer os blogs da moda, assistir aos vários telejornais. Temos que saber falar sobre PAC, aborto, Lula, Operação Navalha, Salvador Shopping, novela das 8...É preciso saber sobre tudo e sobre todos e ainda expressar diplomaticamente seus pensamentos no momento e no local certos. Mas também é preciso estudar os clássicos, porque para o mundo acadêmico, “rigor” é muito mais importante do que “vigor”. Se não houver um “Segundo Durkeim...”, “De acordo com Paulo Freire...”, ou um simples, “Porque Arnaldo Jabor disse...”, não interessa ser ouvida, ou discutir sobre alguma coisa.
É preciso ter carro. Os ônibus coletivos do país não são de boa qualidade, o trânsito nas cidades grandes é caótico, e mesmo assim temos que ser pontualmente britânicos aos compromissos. Só que a Terra está se aquecendo, então é preciso diminuir os gases poluentes que causam esse aquecimento. Então, o que fazer? Comprar um carro significa poluir mais o ar. Se rebelar contra o péssimo serviço de transporte público é ser chamado de “desocupado que não tem trabalho para fazer”. Sair de bicicleta é correr risco de ser atropelado, sair a pé também tem risco de ser assaltado.
Temos que ultrapassar o feijão-com-arroz. Não podemos nos contentar com o que temos. É preciso sonhar mais do que o sonho, conhecer tudo, ver tudo, pegar, entender, estudar, viver o máximo possível de coisas. Mesmo que você só seja uma pessoa, que só tenha uma vida para isso. Engraçado é que a gente não sonha só, mas com um monte de gente que serve para ficar cobrando a realização dele. Se você não conseguir, azar do sonho e azar o seu. A máquina dos sonhos diz que para o sonho acontecer é preciso ser escravo dele. A realidade é simultaneamente emancipadora e constrangedora.
Qual a possibilidade de alguém fazer tudo o que quer, o que tem e o que esperam que faça? É uma tarefa árdua. Talvez 6 horas a mais fariam diferença. As pessoas só andam atrás desses sonhos mesmo. Quanto mais obrigações, mais sonho para a máquina de sonhos.
Na verdade, máquina de sonhos legitima a de frustração, que anda produzindo de vento em poupa, em armadilhas de necessidades criadas, porém inacessíveis. Desisto de sonhar. “Eu quero uma casa no campo”, ou não. Na platéia da peça de minha vida, só quero ver no que vai dar.
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